quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Destrutivo



Morte. Palavra familiar.
Redenção. Palavra desconhecida.
As sirenes do outro lado do vidro são audíveis. Preciso me mover, preciso sair daqui, mas como?Pergunto-me. Como deixar o palco da encenação?
Viver dos momentos ludibriadores que permanecem ao meu redor? Jamais!
Entregar-me? Não é uma opção!
Sinto minha mandíbula se contrair, meus dentes comprimidos pela força aplicada. Corpos diferentes; constituem par de ação e reação...
Ainda assimilo o breve pensamento que tive antes de me comprometer: O quê está pensando?!Eles vão te pegar! – Não!! (jurei para mim mesmo) Nunca! Sou o melhor no que faço!
É real. Sou mesmo o melhor no que faço. Indiscutível.
Um ano atrás, um maníaco assume o posto de líder. Fecho meus olhos e penso na ira que me domina quando penso em tudo o que ele fez. Retomo os passos que fiz até alcançar o meu objetivo.
Estou na rua. Luzes cintilantes, neons para ser exato. Noite alta, vasta multidão, muita música, mulheres, homens, outras espécies...
Pelos cantos, os desvalidos, os cansados, crianças, idosos, pessoas que passaram a ser ignoradas, acusadas e torturadas por serem julgadas como impróprias para habitarem no meio da sociedade. O homem que consumia o próprio homem. Ao menos seria essa a lógica se eu ainda julgasse como humanos as criaturas manipuláveis e cruéis que gostavam da carniça dos que um dia foram os seus iguais.
As vozes altas e baderneiras, os odores fortes, o gosto intragável daquela multidão. Carniça! Odeio isso... pessoas nojentas e que se mostram superiores, quando na verdade são piores do que os próprios excrementos.
Loucos. Depravados. Mentes sórdidas e pútridas que desejam se unir ao asco de sua existência, ou ao menos levar consigo um maior número de adeptos desse estilo.
Como podem fazer tal coisa? Como podem cogitar o verdadeiro prazer como um ato imprudente e repugnante do que julgam ser a alegria? Aversão já não é mais o senso correto pelo qual entregaria tais espécimes... Talvez ‘filhos do mundo’... os verdadeiros (ódio interno... posso senti-lo).
‘Filhos do mundo’, mistura tola e irracional pela qual definem todos aos quais não pertencem ao seu segmento. Com se pudessem de fato prever todos aqueles cuja mente e bolso são confiáveis o suficiente para estarem no meio desses vadios imundos.
Ha,ha... sarcasmo... como diriam: tenham fé meus fiéis, pois afinal, quem pode prever as atrocidades as quais estamos sujeitos por culpa dos filhos do mundo...
O discurso político é evidente, mas isso é assunto para outro instante. Respondendo: EU posso prever, EU sei o que esperar, como e quando esperar, SOU capacitado... Responsável pela justiça - não o julgamento, pois eles se autocondenam- tolos e imbecis acham que podem escapar, mas não, nunca podem!
E hoje era a vez do grande desastre para o chefe deles. Aquele cuja mente se prediz capacitada para o auto controle e dominação das massas. Sua figura tão calma e serena esconde de todos a maior infecção jamais vista por aqueles que o cercam, ou ao menos aqueles que se deixam dominar por ele. Esta noite ele conhecerá a verdadeira justiça divina.
Os aposentos dele eram luxuosos. Luxuosos demais para alguém que vivia se dizendo santo e humilde servo. Humildade nunca foi palavra para aquele ser. Humilhação será a palavra ideal.
Devido as ideias repulsivas daquela mente, hoje a sociedade se encontrava em organização destrutiva. Os assim chamados “mais fortes” agora possuíam poderes diretos sobre qualquer um que considerassem mais fracos ou descartáveis para o mundo.
Era horrendo! Pessoas cometendo atrocidades contra as outras por se acharem nesse direito. E eu percebi que elas nunca iriam parar se o líder não fosse deposto.
Meu ódio por eles era intenso, a minha boca secava cada vez que minha mente recordava o motivo maior que me levou até aquele lugar. Receber o corpo do meu filho. O corpo inerte e frio, um garoto de quinze anos, fuzilado. Um menino esperto, inteligente, que possuía uma vida inteira pela frente.
Meu filho. Morto. Um mês depois eu recebo o disparate de um pedido de desculpas enviado pelo correio. Diziam que meu filho havia sido confundido com um dos ‘filhos do mundo’. O ódio cresceu, a vontade de vingança surgiu. Mas ódio e vingança acumulados me fizeram criar forças, fizeram cada passo se tornar único e cego até atingir o objetivo.
E hoje eu estava ali, naquele lugar. O alarme já havia sido soado, mas eu não desistiria. Eu o encontraria e depois mostraria sua cabeça despregada de seu corpo para todos que ali estivessem.
Levantei-me e comecei a andar pelo local. Era uma fortaleza enorme, mas meus instintos já estavam treinados e meu ódio crescia cada vez que sentia estar chegando perto. Eu o mataria e deixaria o sangue escorrer pelos meus dedos.
Atravessei todos os corredores e alcancei uma porta enorme. Sem pensar duas vezes saquei a arma que carregava e entrei no local. A minha frente havia um monitor, uma espécie de tela gigante e apenas uma cadeira. Assentado nessa cadeira havia alguém. Ele.
Apontei a arma em sua direção.
_Vire-se...bem devagar... quero olhar nos seus olhos enquanto eu o faço pagar por tudo isso.
A cadeira foi virada e o rosto familiar apareceu. Era idêntico aos dos inúmeros programas e cartazes distribuídos por todos os locais. O homem velho e grisalho.
_Assassino...
Meu dedo já estava no gatilho. Minha mente já estava preparada. Mas não precisei puxar o gatilho para ouvir o barulho da bala. Foi então que notei. Atrás de mim havia mais alguém. Esse alguém havia acabado de matar o homem a minha frente.
Não me virei rápido, mas quando o fiz, meus olhos não acreditaram naquilo que estavam vendo. O garoto sorria enquanto abaixava a própria arma lentamente. Depois me encarou e eu gelei com aquela expressão.
_Olá... papai.

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